O Clube Paradiso, em Nova Iguaçu, abriga treinamentos na área de segurançaFoto: Thiago Lontra / Extra
A atenção dada pela Polícia Militar do Estado do Rio (PMERJ) ao projeto das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) não tem sido a mesma que recebe a principal arma da corporação para reduzir a criminalidade e melhorar sua imagem: o próprio policial. O curso do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (Cfap) enfrenta, há anos, críticas de especialistas em segurança pública por ser defasado e insuficiente. Agora, porém, são os próprios instrutores dos futuros policiais que assumem a deficiência e indicam cursos “extracurriculares” para complementar a formação. Isso se cada aluno estiver disposto a gastar R$ 450.
Realizado em três dias, o curso não é obrigatório para o PM conseguir se formar, mas o que se ouve dentro do próprio Cfap é que a preparação pode ficar incompleta sem a capacitação extra. Batizado de Patrulha Urbana, o treinamento particular é preparado para ensinar os alunos a fazer incursões em áreas de risco, usando armas de paintball. São utilizadas 8 mil capsulas de tinta para 30 alunos, ou 266 para cada.
— Não usamos paintball, pois só há 30 armas para todo mundo. Treinamos 150 tiros com pistolas e cerca de 40 com fuzis — diz X., aluno do Cfap, que prefere não se identificar.
A formação extracurricular é oferecida pela empresa CatiRio, especializada em treinamento de profissionais da área de segurança pública. Para se inscrever, os praças não precisam de muito esforço, segundo outro aluno do centro:
— Eles (os funcionários do CatiRio) têm trânsito livre dentro do Cfap e fazem a inscrição dos interessados usando notebooks. Tenho amigos que fizeram o curso e gostaram do que foi ensinado.
O diretor do CatiRio, Adriano Moreira, explica que seu curso não é oferecido de forma velada, mas o comando da PM não tem participação. Ele explica que a formação é dada por instrutores que passaram pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope) e, ainda hoje, estão em batalhões:
— Não sei qual o motivo, mas a formação do Cfap acaba sendo um pouco deficiente por falta de tempo de instrução. Como terá que trabalhar na UPP, o aluno vai buscar experiência com quem combate há muito tempo em favela. Tenho policiais de outros estados fazendo curso com a gente. É normal buscar qualificação.
A Polícia Militar afirmou que está apurando o caso do curso extracurricular, sem dar mais detalhes. Em resposta, a corporação explicou que o treinamento dado aos alunos no Cfap é suficiente para prepará-los para todas as situações que possam surgir quando estiverem formados.
O ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e consultor de segurança Paulo Storani não vê problema em os alunos fazerem cursos, desde que seja para aprender algo além do que deveria ser ensinado pela própria polícia:
— A busca por aperfeiçoamento tem que ser constante em qualquer área.
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